Conto um, conto dois...quantos cantos têm a mim! Conto muitos como muitos e tantas vezes e, tantas contas que nem tenho mais conta de quantos contos ainda sou! Cantamos o que damos conta, o que vemos e o que ouvimos, o que nos dizem e o que nos mostram e adiante nós seguimos como conhecedores de nós mesmos. Pedaços é o que somos e, como pedaços, precisamos ser juntados, mas o inteiro que podemos ser jamais será descoberto, difícil ser arrebanhado.

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Apelo à solidão


Walner Mamede

Não ouse roubar minha solidão
Nem mesmo para me fazer companhia.
Minha solidão apenas a mim pertence
É uma condição minha e somente minha!

Seja paciente comigo e me deixe em meu refúgio
Meu coração depende disso para enfrentar a vida,
Preciso enterrar meus fantasmas em cova profunda
Pra estar inteiro, novamente. Não julgue covardia.

Entenda, nem tudo se resolve na companhia.
Roupas velhas necessitam ser descartadas
Antes que roupas novas sejam vestidas.
As pessoas não entendem isso, na maioria.

Algo aconteceu. Estou velho, talvez seja somente isso!
Não acredito mais nas mesmas coisas, benção ou maldição,
Aquelas nas quais acredito parecem ter perdido o sentido.
Apenas deixe-me só, na companhia da minha solidão.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Desexistência

Walner Mamede
(Maio/2019)

Quanto em mim ainda resta do que sou?
Ou, ao menos, do pouco que penso ser?
Penso?! Sim! Ainda penso e, mais, penso ser aí!
Se pensar é existir, então, existo, mas desisto,
Cansado, desisto da existência, cansei de estar aqui.
Mas morrer não é o que penso, eu quero desexistir
Ser apagado como se nunca houvera lugar ocupado
Onde quer que seja. Esquecer e ser esquecido,
Desaparecer sem um mísero qualquer vestígio.
Essa é a sina de quem pensa, pois existir é amargar.
Vamos, então, nos deitar e, nesse leito de pedra,
Negar a existência em abraços por horas sem fim,
Até que o Sol nos aqueça e acorde da mentira,
Nos atirando de volta ao mundo que me prende.
Prisão que me aprisiona, mais que em ti, em mim.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Virar Pedra




Walner Mamede

Queria viver no tempo das imagens impressas
Para poder rasga-las e tentar dilacerar as lembranças
Adoro seu sorriso, como ele brilha em seus olhos.
O meu abandonou meu rosto nos últimos momentos
Você diz que continuo sorrindo, são apenas aparências

Estou sem meu lugar no mundo, o tempo cura, mas demora
Vai me esquecer como te esquecerei, vai sim, não se iluda.
Nossos brinquedos joguei fora, mas guardei a camisola
Que me açoita como um chicote nas costas desnudas

O ódio me domina, ódio de mim, me sinto humilhada
Por você ter me largado, não me querer como queria
Por não ter mais importância nenhuma em sua vida
Tô procurando trabalho em outras cidades, vou fugir
Vou embora pra nunca mais voltar, estou decidida

Fiz um poema, escrevi um livro, pura Psicologia
Preenchi o tempo, ocupei a mente, não como queria
Não foi minha culpa, aconteceu, você não entende
Tudo não é nada, a vida é assim, às vezes, surpreende

Meu sorriso abandonou meu rosto, é pura verdade,
É que você parou de fazer questão da minha presença.
Eu até entendo você querer essa mina com essa idade,
Eu queria me apaixonar, ela também tem essa esperança,
Mas é um purgatório em vida, não tem necessidade

Queria virar pedra e nunca mais me apaixonar
Amor romântico não vale a pena, é ilusão, sofrimento.
É a suspeição eterna revivida e fixada em um momento,
Seu fim é asfixiante, é como morrer sem descansar.

Outros e outras, drogas ou veneração, nada diminui
O que sinto, a dor, a angústia de ter sido arrancada
Da sua vida. E sem pudor, sem regras, sem nada
Ela chega e quer deitar, se espalhar no meu divã
Não combina! Corselet não se usa com soutien!

A flor do meu bom dia é o resíduo de um amor
Presente na lembrança de alguém que se importa.
Desculpo sua raiva e o despeito que a dor,
Sentida no peito, traz à memória e provoca.

Quero que me ligue, me procure e me queira,
Me atenda, me acalme, me receba e me conforte.
Minha alma chora em silêncio e estou à beira
De fugir de mim mesma, ao encontro da sorte,
Desaparecer entre lágrimas, virar pedra, inteira.