Walner Mamede
Eu
procuro o sarcasmo sutil,
Com
cheiro e gosto de mulher,
A frase
trazida de um filme,
De um
livro, de uma poesia qualquer.
Eu
procuro o perfume discreto,
Banhado
em presença de espírito,
A
autêntica e inteligente heresia,
Mais que
um sorriso de afeto.
Eu
procuro a ironia disfarçada,
Largada,
solta de repente,
Uma
sentença curta e afiada,
Prenhe
de sentido provocante.
Assim, formando a mim pelas coisas,
Aquelas que me rodeiam a esmo,
Eu me
procuro naquilo que não sou,
Tradução
do estranho em mim mesmo,
Para ver
se me encontro no que é outro,
No
estrangeiro além do meu corpo,
Lugar de onde parti e pra onde retorno,
Após correr livre por lugares ermos.
Uma pequena introductio post facto
O conceito de Bildung ou “formação cultural”, cujo sentido se consagrou a partir do século XVIII, foi perdendo conteúdo ao longo da segunda metade do século XIX. Bildung significa, no pensamento de Hegel, a ruptura com o imediato e passagem do particular ao universal...Bildung é formação prática, formação de si pela formação das coisas...à medida que a consciência trabalha formando as coisas ao seu redor, ela forma a si mesma. Bildung é, ainda, lançarmo-nos ao desconhecido em busca de nós, é uma viagem de ida por caminhos excêntricos, estrangeiros e de retorno ao nosso verdadeiro lugar, engrandecidos pela tradução do estranho e pela experiência com aquilo que não somos, é nos tornarmos outro, pois, conforme Friedrich Schlegel (apud Suarez, 2005, p. 195) “O nosso verdadeiro lugar é aquele ao qual sempre retornamos, depois de percorrer os caminhos excêntricos do entusiasmo e da alegria, não aquele do qual nunca saímos”. Nesse sentido, o ideal da Bildung é também, ao menos em parte, responsável pelo desejo de retorno à Antiguidade Clássica, tida como modelo mítico a ser visitado e imitado em busca da autenticidade perdida e do reencontro de nós mesmos.