Conto um, conto dois...quantos cantos têm a mim! Conto muitos como muitos e tantas vezes e, tantas contas que nem tenho mais conta de quantos contos ainda sou! Cantamos o que damos conta, o que vemos e o que ouvimos, o que nos dizem e o que nos mostram e adiante nós seguimos como conhecedores de nós mesmos. Pedaços é o que somos e, como pedaços, precisamos ser juntados, mas o inteiro que podemos ser jamais será descoberto, difícil ser arrebanhado.

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dogmas*

Um canto criado em Nov/2010
Dogmas*
(Walner Mamede Jr)

Ninguém mais quer pensar ou refletir,
Tudo é apenas um dogma.
Ninguém quer parar para discutir,
Tudo é apenas dogma.
                           (Entender por quê?!)
 
Não pare para pensar,
Só faça o que é mandado
Aquilo que é feito
Já foi e está pensado.
                          (Por quê? Por quem?!)

É só obedecer!
Tudo segue uma lei.
Nade contra a maré
E na praia vai morrer
                         (Perguntar pra quê?!)

À lei, siga repetindo!
À lei, siga respondendo!
A mente está fechada
E o corpo está morrendo.
                        (Entender o quê?! Perguntar pra quem?!)


(*Origem da música "Dogmas") 

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ficar só*


Um canto criado em 17/10/2010
Ficar só*
(Walner Mamede Jr)
Queria um dia ficar só.
No sofá me encontro em lembranças,
Olho pra frente e uma coruja me vê.
Apenas por hoje queria estar só
Fazer o que quero e não o que devo,
Ficar no meu lugar, não sair de lá
Ou, quem sabe mesmo, até sair,
Mas só quando eu quiser andar
Sua foto sobre a estante
Os discos que compramos juntos
Eu quase lembrei como era antes
O vento no rosto, o corpo no mundo
Quero aquilo que nunca quis
Desejo da vida nada de mais
Preciso esquecer que já fui feliz
Que já fui feliz há tempos atrás

(*origem da música "Ficar Só")

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O que sobrou de mim?*


Um canto criado em 2010
O que sobrou de mim?*
(Walner Mamede Jr)

A razão cegou meus olhos
A paixão tapou meus ouvidos
O que sobrou de mim?

Olho em volta, estou perdido,
Busco ajuda, estou sozinho,
Vou falar e não consigo.
O que sobrou de mim?

Penso, então, 'o que há comigo?',
Não posso enxergar de perto ou
Separar da verdade o certo,
Nem ouvir o que é dito.
O que sobrou de mim?


Está tudo tão esquisito,
Não dá pra viver assim!
O mundo está descoberto,
Como viver assim?
(*Origem da música "O que sobrou de mim?")

domingo, 20 de junho de 2010

Indiferença*


Indiferença*
(Walner Mamede Jr)
Um canto criado em Jun/2010
E nós, o que fazemos?
E quem é que somos?
Levanto, dirijo,
Trabalho e durmo.

E você? Faz diferente? Faz diferença?

Não somos heróis, nem bandidos
Estamos aí...Apenas aí!
É que ficamos distraídos
Num tô nem aí...nem aí!

E você? Faz diferente? Faz diferença?

A vida passa e nos deixa
Sentados na porta, olhando a gente.
Olho o relógio e me vejo,
Não faço diferença

E você? Faz o diferente? Faz a diferença?

(*Origem da música "Indiferença" em parceria com Edson Morais, na banda F'dX)

domingo, 6 de junho de 2010

Um dia qualquer*

Um canto criado em maio/2010


Um dia qualquer*
(Walner Mamede Jr)


Era um dia como outro qualquer.
Em qualquer lugar que eu olhava
Estava lá, você estava lá.
O brilho, a dor, o medo, a vida,
Tudo se apagou, se apagou.
Você estava lá, estava lá.
No escuro vi a luz de seu hálito,
Os seus olhos se jogaram dentro dos meus.
Você me acordou, me acordou do meu sono.
Em qualquer lugar, estava lá.
Tentei falar, tentei contar,
Ninguém ouvia, nem acreditava.
Terei que ferir seus ouvidos
Pra que me ouçam com seus olhos,
Mas, nos olhos que não ouvem,
Só vejo o meu próprio carrasco.
A beleza se mistura na fumaça
Da vontade violenta que me consome.
Foi um dia como qualquer outro,
De qualquer lugar, eu olhava,
Você estava lá, estava lá.
Foi um dia, estava lá,
Como qualquer outro foi um dia.
Como qualquer outro, de qualquer lugar,
Eu olhava você, estava lá
Estava lá...estava lá...


(*origem da música "Outra qualquer" em parceria com Edson Morais, na banda Fd'X)





domingo, 30 de maio de 2010

Cantiga de Mestre


Um canto criado em 1994

Cantiga de Mestre
(Walner Mamede Jr)


Arte antiga nascida da terra
Em eras remotas de gente escrava
Que lembram uma triste história de guerra
Manchada por sangue que nunca se lava.

Me fiz capoeira de jogo sem saltos,
Cantando e jogando nas rodas da vida,
Forçando a caída dos cabras incautos,
Que compravam o jogo querendo uma briga.

Sou Mestre-discípulo e filho-amante
Da arte rebelde, em tudo tão bela,
Nascida do sonho de seguir adiante
E fugir do chicote e do açoite sem trégua.


O Jogo da Vadiagem


Um canto criado em 1994

O Jogo da Vadiagem
 (Walner Mamede Jr)


Vamo jogá, seu moço, vamo jogá,
Sai no Aú, que eu saio no Rolê.
Esta roda esquentá eu quero vê.

Joga bunito seu jogo matreiro,
Mas com muita atenção
Que meu chute é certeiro.

Se você chuta
Eu tenho que esquivá
Se você levanta
Eu tenho que abaixá

Lá no meio o jogo é pra valê
Mas se vê que tá cansado
Estende a mão pro parceiro
Que o jogo é encerrado.

Vadiá é vadiagem,
Capoeira é capoeiragem.


Os 300 da Esplanada*


Um canto criado em 30/04/2010

Os 300 da Esplanada*
(Walner Mamede Jr)

A PM enfurecida,
Violência pra todo lado
A Câmara Legislativa,
Escolheu o homem errado.

Abril dezessete, um dia
Na história do Brasil,
Na Brasília que dizia
Vai a PÁTRIA-que-pariu

Pneus em chama no asfalto
300 vozes se elevando
Cabeça erguida, grito alto
E a polícia detonando!

Prenderam por desacato
Mas a pessoa foi errada
Não viram que o bandido
Se escondia na Espalanada

Abril dezessete, um dia
Na história do Brasil,
Na Brasília que dizia
Vai a PUTA-que-pariu

(*Origem da música "Os 300 da Esplanada")


Paradigmas*

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Um canto criado em Fevereiro/2006

Paradigmas*
(Walner Mamede Jr)

Que sejam escolhidas
Perguntas incertas
Às respostas já dadas,
Pois que estas,
As respostas tiranas,
Já prontas, velhas,
Não ouvem, são surdas,
Alheias às coisas perguntadas

Fizeram-me pensar: só se ama um por vez,
Fizeram-me acreditar: trinta dias tem o mês.
Contaram-me contos que me mostram o que sou,
Mostraram-me pontos que me contam aonde vou.
Jogaram minha vida como pedras...tão banal,
Usadas como contas em um jogo sem final.
Não há nenhum sentido no que a vida me propôs
E aquilo que eu quero, não faço agora, só depois

Fizeram-me amar sem pensar por uma vez:
O final de toda conta não se encontra no fim do mês,
Um jogo não dá pontos quando conto o que sou
E só há pedras no caminho se o que quero é aonde vou.
Mostraram minha vida em um conto tão banal
E aquilo que proponho quando faço é tudo igual

Jogaram minha vida como pedras num quintal,
Usadas como contas em um jogo desigual.
Não há nenhum sentido no agora, só depois
E aquilo que eu quero, nem a vida me propôs.

(*Origem da música "Paradigmas")


Formas Diferentes


Um canto criado em março/2006

Formas Diferentes
(Walner Mamede Jr)

O círculo é um quadrado sem ponta,
O quadrado, um retângulo mais curto
E se o retângulo a gente desmonta
Dá outra figura, mas qual, eu pergunto?

Vamos ver com bastante vagar:
O retângulo e seu primo quadrado,
Se duas pontas a gente ligar,
Dá um par de triângulos emendado!

Veja só que coisa interessante!
Quatro formas diferentes de verdade,
Uma sempre sendo parte das restantes,
Trabalhando pelo bem da humanidade.


Quando, por fim, encontramos a nós mesmos

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Um canto criado em março/2006
Quando, por fim, encontramos a nós mesmos
(Walner Mamede Jr)

Quero beber outra mulher,
Mas não apenas bebê-la,
Quero sentir o seu cheiro
E o seu gosto escondidos,
Provar a textura de sua pele
No contato com meu corpo.
Quero comer outra mulher,
Mas não apenas comê-la,
Quero passear sobre ela
Meus olhos famintos,
Meus lábios e mãos
Trêmulos de desejo.
Quero possuir outra mulher,
Mas não apenas possuí-la,
Quero ser possuído por ela,
Preencher os seus olhos,
Invadir o seu corpo,
E, além, sua alma.
Quero gozar em outra mulher,
Mas não apenas nela, com ela
Quero o gozo da vida,
Conhecer seus sonhos e desejos,
Sonhá-los a todos e cada um
E desejar que sejam também meus.
Quero descobrir-me homem,
Mas não apenas homem só,
Quero-me em uma mulher,
Sentindo nosso gosto
Na ponta dos meus dedos
E no contorno de seus lábios,
Enquanto meu corpo frágil
Se contorce dentro dela.
Quero amar uma mulher,
Mas não apenas uma qualquer,
Quero amar sempre a mesma
E, invadido por sua alma,
Queimar-me em seu ventre
E em seu fogo me perder,
Descobrindo a certeza
De que outras sempre virão,
Mas não valerão o sacrifício
Daquela que escolhi para amar
E que branqueja seus cabelos
Pela estrada, junto aos meus.

Razão e Infelicidade

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Um canto criado em março/2006
Razão e Infelicidade
(Walner Mamede Jr)

Quero abandonar a razão
Essa que se impregnou a mim
Como o mal, cheiro nauseabundo da morte.
Entregar-me à paixão desarrazoada,
À ignorância, cárcere da felicidade.
Aprazeirar-me de ver algo de certo
Na luxúria e no pecado sem o vicio do entendimento.
Desejo usufruir do belo nas sensações do mundo
À contemplação da beleza que flui na eternidade,
Unir corpo e espírito na alegria de sentir.
Mas que sou eu senão aquele que pensa
Na ilusão de transformar o chão
Em algo mais macio e confortável
Aos corpos depositados pela exaustão?

sábado, 22 de maio de 2010

De Mim a Mim Mesmo


Um canto criado em fev/2006
De Mim a Mim Mesmo
(Walner Mamede Jr)

Quero sair do roteiro
Abandonar a história
Me recriar num lugar
Em que ninguém me conheça.
Viver novas vidas,
Sentir novas peles
Separadas no tempo
Ou de uma só vez.
Esquecer-me do que sou
Para ser novamente
E, assim, sendo e não sendo,
Buscar a mim em canto
E a quem quer que seja,
Uma hora igual, outra diferente.
Em água, em ar, desconhecido,
Diluir-me no mundo
Pra, quem sabe, um dia
Ou mesmo uma noite
De volta ao início,
Beber no mesmo vinho novo,
Aquele “eu” velho e antigo.

Era dos Homens deuses

Um canto criado em mar/2006

Era dos Homens deuses
(Walner Mamede Jr)

Era uma vez e sempre será
Papai, o Noel, e na Páscoa o Coelho,
Cristo pra vida e a Fada pro dente.
Gnomos, duendes e elementais
Fantasia infantil que contam pra gente,
Presenças divinas em crenças marginais.
Um ponto aumentado no enredo de um conto
E o conto contado, era após era,
Deu vida à Lua, ao Sol e à pedra.
E na história dos tempos, em nome da fé
Nasceram Buda, Osíris, Zeus, Yaveh
Todos iguais em força e poder
A Oxossi, Ogum e quem mais for nascer.
Era uma vez uma Terra esquecida
De espíritos livres para arbitrar,
A fazer, de um, sete com o sagrado tantra,
Comer seus pecados com a hóstia ungida,
Ler a Escritura em nome de Jeová,
E abrir o seu chackra com o Kama Sutra
Era uma vez uma era dos Homens em guerra
Em nome dos deuses aqui na Terra

Despedida

Um canto criado em mar/2006
Despedida
(Walner Mamede Jr)

Hoje um anjo me visitou
No brilho dos olhos de uma criança que vi,
Depositados sobre os meus, sorrindo,
Falando de esperança e da vida,
Da inocência e alegria,
Prisioneiro me fizeram
E aprisionado que fiquei
Em devaneios me perdi.
Mergulhado nesses olhos,
Vi sua sede e sua fome
De um desejo de ser mais,
De ser gente e de fugir
Do que mata e que consome
No que já foi e está por vir.
E olhando e sendo olhado
Vi o brilho ali presente
Se perder no horizonte
E, entre cabelos brancos,
Despedir-se em desencanto
No encalço da esperança
Há muito tempo escurecida
Em meus olhos de criança
Pela noite sem luar,
Cobrindo o mundo com seu manto.

A Terra Encantada


Um canto criado em mar/2006
A Terra Encantada
(Walner Mamede Jr)

Existe um mundo cheio de vida
Um mundo mágico que está aqui
Abra os olhos, olhe em volta
Sinta a beleza maior que já vi

Planeta Terra, terra de encantos
E encantados todos nós ficamos
Quando sentimos a força da vida
Pairando no ar que respiramos

Se você quiser, poderá vê-lo
Seja criança como a criança
Olhe com os olhos da natureza
E dance pra ela como o índio dança

Planeta Terra, terra de encantos
E encantados todos nós ficamos
Quando sentimos a força da vida
Pairando no ar que respiramos

Plantinhas selvagens de bela folhagem
Árvores grandes de galhos frondosos
Criaturas pequenas em pedras escondidas
Luzes e brilho enfeitando a paisagem

Planeta Terra, terra de encantos
E encantados todos nós ficamos
Quando sentimos a força da vida
Pairando no ar que respiramos

Ponha o pé no caminho e vá sempre em frente
Não é longe, é logo aqui, pertinho dali,
Tão perto da gente, que a gente não sente,
E longe de tudo o que é mal e ruim

O meio-grito

 Um canto criado em 04/fev/2006

O meio-grito
(Walner Mamede Jr)

A saúde é a fraqueza, a doença da doença
Do pobre que não adoece, nasce doente e não se cura
E vai morrendo pela vida, na roça ou na ponta da rua,
Fervendo receita pra escapar em meio à indiferença,
Como um povo desfeiteado, que vive na marra, arrastado,
Do capim fazendo salada, sem ter carne nem verdura.
O arroz é puro branco, feito n’água, sem gordura,
Fraco pra quem trabalha, pega pesado, mas sempre barato.
Em um mundo de rico feito de pobre,
Que ganha menos que quem tá parado,
O conhecimento escondido é saber erudito,
Pra rico uma arma, pro pobre, maldito.
Mundo em que rico é curado e pobre enganado.
Clima que mudou de clima, vento de tempo quente,
Ar ruim e água doente, adubo e vacina é pra toda gente
Só a fome é do povo e a ele ela se prende
Tá com o povo e com ele vai pra todo lado que ele pende,
Pois o pobre é a água pequena que enche o ribeirão.
Seu suor tá no carro, tá no prato de comida,
Tá na roupa que é vestida por cada tubarão.
E o grito, o meio-grito, o grito inteiro da multidão?
Engasga na garganta, se perde em meio ao medo,
Sufoca na vergonha de não ter situação.

Amordaçado


Um canto criado em  10/ago/2005
Amordaçado
(Walner Mamede Júnior)

Quero gritar contra o mundo.
Preciso gritar, alto, forte,
Arrancar de mim esta angústia
Da mediocridade intransponível
Da insignificância esmagadora.
(Onde está minha voz?!
 Quem me ouve?!)

Grito e meu grito se deforma.
Na garganta se faz grito,
Mas, na boca, um gemido
Mistura-se, escapulido,
A outros à minha volta.
(Por que estão gemendo?!
Por que não gritam?!)

Um lamento surdo, nada mais,
É o que se ouve em cada boca,
Cada olho, cada sorriso,
Cada qual no seu tamanho,
Na sua cor e no seu canto.
Canto do mundo, canto da vida,
Canto do sonho, canto da dor.
(Canto mudo?!
Que canção é essa?!)

Quero gritar,
Abro a boca, estufo o peito e...
...o mundo me entra goela abaixo!
Meu deus! Estou sufocando!
Água! Quero água!
Engasgado, em desespero
Cambaleio pela multidão
E ouço uma voz, fria e amável:
            “Por favor, pressione a desejada opção”.

Casamento Perfeito



Um canto criado em 1994
Casamento Perfeito
(Walner Mamede Jr)

Buscando a vida que à vida sucede,
Que seus suspiros separem meus lábios
E seus soluços soem em meu peito.
Pertençam aos meus olhos as suas lágrimas
E deles encha de pronto o leito.

Una ao meu o mundo que é seu
Sejamos um em alma e coro,
Sacie minha sede com sua angústia
E dá-me de comer o teu sorriso
No mais profundo e sincero abandono.

Pertença em vida apenas a mim
E apenas a ti pertencerei.
Casemos os corpos em busca da alma,
Bebamos do vinho sem que derrame
E acordemos despidos do sono, por fim.

Que as partes do todo se tornem uma
E a unidade pertença ao infinito.
E cresçamos ligados ao sol e à lua
Pois é e será como foi dito,
Até que a morte, de novo, nos reúna.

Escura noite clara


Um canto criado em 1990
Escura noite clara
(Walner Mamede Jr)

Cidade escura, verdade clara.
A noite é o palco em que brilha a estrela,
Que se entrega despida de qualquer pudor
A representações reais de origem obscena
De comédias trágicas e dramas de amor.
Assumindo desejos e paixões sufocadas,
Viciadas em vícios apagados pela luz
Se traveste, muda de nome e, em cena,
Nasce e morre, odeia e seduz.
Inflama-se, geme e grita,
Sorri, aquiesce e chora.
E, no cheiro do prazer que sólido se torna
Faz-se, também, o minuto em hora
E enquanto a grinalda negra é tirada
Agradecem os artistas e o palco se transforma
E, pintando de sombras a madrugada,
A luz trás de volta o bom papel:
Vai-se o batom pela gravata
E ao dedo marcado retorna o anel.
A verdade, confusa, se contorce e se esconde
Nas sombras profanas da luminosidade.
E o escuro das almas em pranto se encolhe
À espera de que em noite o dia se torne,
O dia, que alheio ao sofrer, já arde.

Árvore da Sabedoria


Árvore da Sabedoria
(Walner Mamede Jr)

Eles
Vós, Nós
Ele, Tu, Eu,
Por respostas
Percorri o mundo,
Removi montanhas
E vasculhei os céus
E também os mares.
E busquei na morte
Aquelas que, em vida,
Não obtive melhores.
Quando, afinal, as possuía,
Todas e cada uma delas,
As perguntas, velhas amigas,
Que há muito luminesciam meu norte,
Mudaram sua cor,
Tornaram-se outras,
Diferentes, distantes,
Para mim desconhecidas.
Percebi, então, que a sabedoria
Não estava em conquistá-las todas,
Mas em, eternamente, perseguí-las.

Palabras


Um canto criado em 1991

Palabras
(Walner Mamede Jr)

Me faltan palabras...
no por desconocerlas,
sinó, porque se me escaparon
de la memoria.

Me faltan palabras...
no por olvidarlas,
sinó porque no existen.

Me faltan palabras...
que son raras y aún exitiendo
no son suficientes
para expresar lo que siento

Por eso,

...me faltan palabras...

domingo, 21 de março de 2010

Canto em contos

Um canto criado em 21/03/2010

Canto em contos
(Walner Mamede Jr)

Em prosa e poesia, em verso e reverso,
Canto contos que conto e reconto
Em cantos tão alegres quanto o pranto.
Em cada canto um conto se encontra
Em cada conto uma conta que encanta.

Dar conta e ser do contra
No encanto que se apresenta.
Sem conta do que desmonta,
Pago a conta e vou-me embora,
Pois quem canta toca a alma,
Meu corpo não se sustenta.

Em cor e cinzenta, em tinta e rabisco,
Refaço a mim mesmo e nem sei o que sinto.
Com pingos e traços, reinvento e arrisco
E a tela em tela, aquela que pinto,
É um canto epitáfio de um conto esquecido.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Trilha do vento

Um canto criado em 1999


Trilha do vento
(Walner Mamede Jr)

Navego esquecido a estrada do vento,
Vagando sem rumo por mundos antigos,
Levando comigo a idade do tempo
Em tempos de luto por dias perdidos.

Eu trago da fonte o que a fonte me cede,
Buscando nos cantos o canto dos loucos
Que fala da morte que à vida precede
E toca com um sopro a alma de poucos.

Caminho num mar de águas praieiras,
Que viram em ondas o som do luar,
Morrendo em ilhas de velhas palmeiras
De folhas vergadas ao toque do ar.

Me encontro, por vezes, em rotas trilhadas
Por bravos guerreiros de guerras sem fim
E enfrento a existência em longas jornadas,
Pertenço ao mundo e ele à mim.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Desesperança




Desesperança
(Walner Mamede Jr.)


Fraqueje e se faça ferir
E fuja sem fuga de fato,
Faça da força uma farsa,
Fingindo a firmeza do fraco.

Venda sua vida ao vinho,
Ao vinho da vida vivida
Em volta de vasto vazio
Que verte em vagas vontades

Trague na taça o tormento
De torpes trapos trajado,
Tingindo com turva tintura
A trilha de triste traçado.

Perdas




Perdas
(Walner Mamede Jr)

As lágrimas rolam novamente
E contam a tristeza dos olhos,
Janela da alma sofrente,
Alma que chora em silêncio,
Calando a certeza da mente,
Mente que quer não estar certa
Da dor que se mostra iminente:
A perda daquele, o mais amado,
Que marcou seu futuro e passado,
O homem que é seu presente.

Lembrança maculada



Lembrança maculada
(Walner Mamede Jr.)

Teu sangue, ao meu macula,
Apodrece o teu cerne,
Envenena tua alma
E fomenta os teus vermes.
É o sangue entornado,
Que permeia minha sorte,
Atravessa minha vida
E dá vida à minha morte.
Mas, em vindouros sóis,
Não olvidarei priscas eras,
Pois do nada que sobrou,
Resta tu, que foste delas.

Tormento




Tormento
(Walner Mamede Jr.)

Das profundezas é a serpente
Que em minha mão eu vejo,
Sem perceber que é tão somente,
De minha loucura, um lampejo.

Sofrendo o peso desse destino,
Que me definha e me derreia,
O sangue seca em minha veia
E me agarro ao desatino.

Cospem já, os olhos, rubras gotas
Solidários ao meu tormento,
Quando escapam palavras poucas
Que tão roucas se vão ao vento.

Trajando, a angústia, negro manto,
Do corpo meu me suga a vida,
Buscando fundo a dor sentida
Pel’alma triste em desencanto.

Separam-se, enfim, meus corpos
E, no colo, encontro a chave
Que, embora, porta não destrave,
Abre passagem para os mortos.

Anunciação



Anunciação
 (Walner Mamede Jr)

Sentirei a maciez de sua língua junto à minha,
E o cheiro excitante de sua boca febril.
Em seu lábio o ferro, ao fechar dos dentes,
Saído do corpo ardente que à mim se abriu.

Ao tocar seu púbis, enrijecidos mamilos
Roçarão meu corpo tenso, frenético e viril.
E anunciado o prazer, molhados os dedos
Joga-la-ei ao chão como troça infantil.

Abrirei suas pernas e, aninhando-me em seu meio,
Leva-la-ei ao gozo gemido na forma de pranto.
No açoite da carne, um sussurro a cada galeio
Tomará de seu ventre o odor úmido e visguento.

E, assim atracados como feras selvagens,
Enlaçados no calor e tessitura do desejo,
Trocaremos carícias de dor e prazer ardentes,
Em meio ao sangue anunciador do ensejo.