Conto um, conto dois...quantos cantos têm a mim! Conto muitos como muitos e tantas vezes e, tantas contas que nem tenho mais conta de quantos contos ainda sou! Cantamos o que damos conta, o que vemos e o que ouvimos, o que nos dizem e o que nos mostram e adiante nós seguimos como conhecedores de nós mesmos. Pedaços é o que somos e, como pedaços, precisamos ser juntados, mas o inteiro que podemos ser jamais será descoberto, difícil ser arrebanhado.

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domingo, 30 de maio de 2010

Cantiga de Mestre


Um canto criado em 1994

Cantiga de Mestre
(Walner Mamede Jr)


Arte antiga nascida da terra
Em eras remotas de gente escrava
Que lembram uma triste história de guerra
Manchada por sangue que nunca se lava.

Me fiz capoeira de jogo sem saltos,
Cantando e jogando nas rodas da vida,
Forçando a caída dos cabras incautos,
Que compravam o jogo querendo uma briga.

Sou Mestre-discípulo e filho-amante
Da arte rebelde, em tudo tão bela,
Nascida do sonho de seguir adiante
E fugir do chicote e do açoite sem trégua.


O Jogo da Vadiagem


Um canto criado em 1994

O Jogo da Vadiagem
 (Walner Mamede Jr)


Vamo jogá, seu moço, vamo jogá,
Sai no Aú, que eu saio no Rolê.
Esta roda esquentá eu quero vê.

Joga bunito seu jogo matreiro,
Mas com muita atenção
Que meu chute é certeiro.

Se você chuta
Eu tenho que esquivá
Se você levanta
Eu tenho que abaixá

Lá no meio o jogo é pra valê
Mas se vê que tá cansado
Estende a mão pro parceiro
Que o jogo é encerrado.

Vadiá é vadiagem,
Capoeira é capoeiragem.


Os 300 da Esplanada*


Um canto criado em 30/04/2010

Os 300 da Esplanada*
(Walner Mamede Jr)

A PM enfurecida,
Violência pra todo lado
A Câmara Legislativa,
Escolheu o homem errado.

Abril dezessete, um dia
Na história do Brasil,
Na Brasília que dizia
Vai a PÁTRIA-que-pariu

Pneus em chama no asfalto
300 vozes se elevando
Cabeça erguida, grito alto
E a polícia detonando!

Prenderam por desacato
Mas a pessoa foi errada
Não viram que o bandido
Se escondia na Espalanada

Abril dezessete, um dia
Na história do Brasil,
Na Brasília que dizia
Vai a PUTA-que-pariu

(*Origem da música "Os 300 da Esplanada")


Paradigmas*

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Um canto criado em Fevereiro/2006

Paradigmas*
(Walner Mamede Jr)

Que sejam escolhidas
Perguntas incertas
Às respostas já dadas,
Pois que estas,
As respostas tiranas,
Já prontas, velhas,
Não ouvem, são surdas,
Alheias às coisas perguntadas

Fizeram-me pensar: só se ama um por vez,
Fizeram-me acreditar: trinta dias tem o mês.
Contaram-me contos que me mostram o que sou,
Mostraram-me pontos que me contam aonde vou.
Jogaram minha vida como pedras...tão banal,
Usadas como contas em um jogo sem final.
Não há nenhum sentido no que a vida me propôs
E aquilo que eu quero, não faço agora, só depois

Fizeram-me amar sem pensar por uma vez:
O final de toda conta não se encontra no fim do mês,
Um jogo não dá pontos quando conto o que sou
E só há pedras no caminho se o que quero é aonde vou.
Mostraram minha vida em um conto tão banal
E aquilo que proponho quando faço é tudo igual

Jogaram minha vida como pedras num quintal,
Usadas como contas em um jogo desigual.
Não há nenhum sentido no agora, só depois
E aquilo que eu quero, nem a vida me propôs.

(*Origem da música "Paradigmas")


Formas Diferentes


Um canto criado em março/2006

Formas Diferentes
(Walner Mamede Jr)

O círculo é um quadrado sem ponta,
O quadrado, um retângulo mais curto
E se o retângulo a gente desmonta
Dá outra figura, mas qual, eu pergunto?

Vamos ver com bastante vagar:
O retângulo e seu primo quadrado,
Se duas pontas a gente ligar,
Dá um par de triângulos emendado!

Veja só que coisa interessante!
Quatro formas diferentes de verdade,
Uma sempre sendo parte das restantes,
Trabalhando pelo bem da humanidade.


Quando, por fim, encontramos a nós mesmos

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Um canto criado em março/2006
Quando, por fim, encontramos a nós mesmos
(Walner Mamede Jr)

Quero beber outra mulher,
Mas não apenas bebê-la,
Quero sentir o seu cheiro
E o seu gosto escondidos,
Provar a textura de sua pele
No contato com meu corpo.
Quero comer outra mulher,
Mas não apenas comê-la,
Quero passear sobre ela
Meus olhos famintos,
Meus lábios e mãos
Trêmulos de desejo.
Quero possuir outra mulher,
Mas não apenas possuí-la,
Quero ser possuído por ela,
Preencher os seus olhos,
Invadir o seu corpo,
E, além, sua alma.
Quero gozar em outra mulher,
Mas não apenas nela, com ela
Quero o gozo da vida,
Conhecer seus sonhos e desejos,
Sonhá-los a todos e cada um
E desejar que sejam também meus.
Quero descobrir-me homem,
Mas não apenas homem só,
Quero-me em uma mulher,
Sentindo nosso gosto
Na ponta dos meus dedos
E no contorno de seus lábios,
Enquanto meu corpo frágil
Se contorce dentro dela.
Quero amar uma mulher,
Mas não apenas uma qualquer,
Quero amar sempre a mesma
E, invadido por sua alma,
Queimar-me em seu ventre
E em seu fogo me perder,
Descobrindo a certeza
De que outras sempre virão,
Mas não valerão o sacrifício
Daquela que escolhi para amar
E que branqueja seus cabelos
Pela estrada, junto aos meus.

Razão e Infelicidade

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Um canto criado em março/2006
Razão e Infelicidade
(Walner Mamede Jr)

Quero abandonar a razão
Essa que se impregnou a mim
Como o mal, cheiro nauseabundo da morte.
Entregar-me à paixão desarrazoada,
À ignorância, cárcere da felicidade.
Aprazeirar-me de ver algo de certo
Na luxúria e no pecado sem o vicio do entendimento.
Desejo usufruir do belo nas sensações do mundo
À contemplação da beleza que flui na eternidade,
Unir corpo e espírito na alegria de sentir.
Mas que sou eu senão aquele que pensa
Na ilusão de transformar o chão
Em algo mais macio e confortável
Aos corpos depositados pela exaustão?

sábado, 22 de maio de 2010

De Mim a Mim Mesmo


Um canto criado em fev/2006
De Mim a Mim Mesmo
(Walner Mamede Jr)

Quero sair do roteiro
Abandonar a história
Me recriar num lugar
Em que ninguém me conheça.
Viver novas vidas,
Sentir novas peles
Separadas no tempo
Ou de uma só vez.
Esquecer-me do que sou
Para ser novamente
E, assim, sendo e não sendo,
Buscar a mim em canto
E a quem quer que seja,
Uma hora igual, outra diferente.
Em água, em ar, desconhecido,
Diluir-me no mundo
Pra, quem sabe, um dia
Ou mesmo uma noite
De volta ao início,
Beber no mesmo vinho novo,
Aquele “eu” velho e antigo.

Era dos Homens deuses

Um canto criado em mar/2006

Era dos Homens deuses
(Walner Mamede Jr)

Era uma vez e sempre será
Papai, o Noel, e na Páscoa o Coelho,
Cristo pra vida e a Fada pro dente.
Gnomos, duendes e elementais
Fantasia infantil que contam pra gente,
Presenças divinas em crenças marginais.
Um ponto aumentado no enredo de um conto
E o conto contado, era após era,
Deu vida à Lua, ao Sol e à pedra.
E na história dos tempos, em nome da fé
Nasceram Buda, Osíris, Zeus, Yaveh
Todos iguais em força e poder
A Oxossi, Ogum e quem mais for nascer.
Era uma vez uma Terra esquecida
De espíritos livres para arbitrar,
A fazer, de um, sete com o sagrado tantra,
Comer seus pecados com a hóstia ungida,
Ler a Escritura em nome de Jeová,
E abrir o seu chackra com o Kama Sutra
Era uma vez uma era dos Homens em guerra
Em nome dos deuses aqui na Terra

Despedida

Um canto criado em mar/2006
Despedida
(Walner Mamede Jr)

Hoje um anjo me visitou
No brilho dos olhos de uma criança que vi,
Depositados sobre os meus, sorrindo,
Falando de esperança e da vida,
Da inocência e alegria,
Prisioneiro me fizeram
E aprisionado que fiquei
Em devaneios me perdi.
Mergulhado nesses olhos,
Vi sua sede e sua fome
De um desejo de ser mais,
De ser gente e de fugir
Do que mata e que consome
No que já foi e está por vir.
E olhando e sendo olhado
Vi o brilho ali presente
Se perder no horizonte
E, entre cabelos brancos,
Despedir-se em desencanto
No encalço da esperança
Há muito tempo escurecida
Em meus olhos de criança
Pela noite sem luar,
Cobrindo o mundo com seu manto.

A Terra Encantada


Um canto criado em mar/2006
A Terra Encantada
(Walner Mamede Jr)

Existe um mundo cheio de vida
Um mundo mágico que está aqui
Abra os olhos, olhe em volta
Sinta a beleza maior que já vi

Planeta Terra, terra de encantos
E encantados todos nós ficamos
Quando sentimos a força da vida
Pairando no ar que respiramos

Se você quiser, poderá vê-lo
Seja criança como a criança
Olhe com os olhos da natureza
E dance pra ela como o índio dança

Planeta Terra, terra de encantos
E encantados todos nós ficamos
Quando sentimos a força da vida
Pairando no ar que respiramos

Plantinhas selvagens de bela folhagem
Árvores grandes de galhos frondosos
Criaturas pequenas em pedras escondidas
Luzes e brilho enfeitando a paisagem

Planeta Terra, terra de encantos
E encantados todos nós ficamos
Quando sentimos a força da vida
Pairando no ar que respiramos

Ponha o pé no caminho e vá sempre em frente
Não é longe, é logo aqui, pertinho dali,
Tão perto da gente, que a gente não sente,
E longe de tudo o que é mal e ruim

O meio-grito

 Um canto criado em 04/fev/2006

O meio-grito
(Walner Mamede Jr)

A saúde é a fraqueza, a doença da doença
Do pobre que não adoece, nasce doente e não se cura
E vai morrendo pela vida, na roça ou na ponta da rua,
Fervendo receita pra escapar em meio à indiferença,
Como um povo desfeiteado, que vive na marra, arrastado,
Do capim fazendo salada, sem ter carne nem verdura.
O arroz é puro branco, feito n’água, sem gordura,
Fraco pra quem trabalha, pega pesado, mas sempre barato.
Em um mundo de rico feito de pobre,
Que ganha menos que quem tá parado,
O conhecimento escondido é saber erudito,
Pra rico uma arma, pro pobre, maldito.
Mundo em que rico é curado e pobre enganado.
Clima que mudou de clima, vento de tempo quente,
Ar ruim e água doente, adubo e vacina é pra toda gente
Só a fome é do povo e a ele ela se prende
Tá com o povo e com ele vai pra todo lado que ele pende,
Pois o pobre é a água pequena que enche o ribeirão.
Seu suor tá no carro, tá no prato de comida,
Tá na roupa que é vestida por cada tubarão.
E o grito, o meio-grito, o grito inteiro da multidão?
Engasga na garganta, se perde em meio ao medo,
Sufoca na vergonha de não ter situação.

Amordaçado


Um canto criado em  10/ago/2005
Amordaçado
(Walner Mamede Júnior)

Quero gritar contra o mundo.
Preciso gritar, alto, forte,
Arrancar de mim esta angústia
Da mediocridade intransponível
Da insignificância esmagadora.
(Onde está minha voz?!
 Quem me ouve?!)

Grito e meu grito se deforma.
Na garganta se faz grito,
Mas, na boca, um gemido
Mistura-se, escapulido,
A outros à minha volta.
(Por que estão gemendo?!
Por que não gritam?!)

Um lamento surdo, nada mais,
É o que se ouve em cada boca,
Cada olho, cada sorriso,
Cada qual no seu tamanho,
Na sua cor e no seu canto.
Canto do mundo, canto da vida,
Canto do sonho, canto da dor.
(Canto mudo?!
Que canção é essa?!)

Quero gritar,
Abro a boca, estufo o peito e...
...o mundo me entra goela abaixo!
Meu deus! Estou sufocando!
Água! Quero água!
Engasgado, em desespero
Cambaleio pela multidão
E ouço uma voz, fria e amável:
            “Por favor, pressione a desejada opção”.

Casamento Perfeito



Um canto criado em 1994
Casamento Perfeito
(Walner Mamede Jr)

Buscando a vida que à vida sucede,
Que seus suspiros separem meus lábios
E seus soluços soem em meu peito.
Pertençam aos meus olhos as suas lágrimas
E deles encha de pronto o leito.

Una ao meu o mundo que é seu
Sejamos um em alma e coro,
Sacie minha sede com sua angústia
E dá-me de comer o teu sorriso
No mais profundo e sincero abandono.

Pertença em vida apenas a mim
E apenas a ti pertencerei.
Casemos os corpos em busca da alma,
Bebamos do vinho sem que derrame
E acordemos despidos do sono, por fim.

Que as partes do todo se tornem uma
E a unidade pertença ao infinito.
E cresçamos ligados ao sol e à lua
Pois é e será como foi dito,
Até que a morte, de novo, nos reúna.

Escura noite clara


Um canto criado em 1990
Escura noite clara
(Walner Mamede Jr)

Cidade escura, verdade clara.
A noite é o palco em que brilha a estrela,
Que se entrega despida de qualquer pudor
A representações reais de origem obscena
De comédias trágicas e dramas de amor.
Assumindo desejos e paixões sufocadas,
Viciadas em vícios apagados pela luz
Se traveste, muda de nome e, em cena,
Nasce e morre, odeia e seduz.
Inflama-se, geme e grita,
Sorri, aquiesce e chora.
E, no cheiro do prazer que sólido se torna
Faz-se, também, o minuto em hora
E enquanto a grinalda negra é tirada
Agradecem os artistas e o palco se transforma
E, pintando de sombras a madrugada,
A luz trás de volta o bom papel:
Vai-se o batom pela gravata
E ao dedo marcado retorna o anel.
A verdade, confusa, se contorce e se esconde
Nas sombras profanas da luminosidade.
E o escuro das almas em pranto se encolhe
À espera de que em noite o dia se torne,
O dia, que alheio ao sofrer, já arde.

Árvore da Sabedoria


Árvore da Sabedoria
(Walner Mamede Jr)

Eles
Vós, Nós
Ele, Tu, Eu,
Por respostas
Percorri o mundo,
Removi montanhas
E vasculhei os céus
E também os mares.
E busquei na morte
Aquelas que, em vida,
Não obtive melhores.
Quando, afinal, as possuía,
Todas e cada uma delas,
As perguntas, velhas amigas,
Que há muito luminesciam meu norte,
Mudaram sua cor,
Tornaram-se outras,
Diferentes, distantes,
Para mim desconhecidas.
Percebi, então, que a sabedoria
Não estava em conquistá-las todas,
Mas em, eternamente, perseguí-las.

Palabras


Um canto criado em 1991

Palabras
(Walner Mamede Jr)

Me faltan palabras...
no por desconocerlas,
sinó, porque se me escaparon
de la memoria.

Me faltan palabras...
no por olvidarlas,
sinó porque no existen.

Me faltan palabras...
que son raras y aún exitiendo
no son suficientes
para expresar lo que siento

Por eso,

...me faltan palabras...