Conto um, conto dois...quantos cantos têm a mim! Conto muitos como muitos e tantas vezes e, tantas contas que nem tenho mais conta de quantos contos ainda sou! Cantamos o que damos conta, o que vemos e o que ouvimos, o que nos dizem e o que nos mostram e adiante nós seguimos como conhecedores de nós mesmos. Pedaços é o que somos e, como pedaços, precisamos ser juntados, mas o inteiro que podemos ser jamais será descoberto, difícil ser arrebanhado.

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sábado, 13 de fevereiro de 2010

Trilha do vento

Um canto criado em 1999


Trilha do vento
(Walner Mamede Jr)

Navego esquecido a estrada do vento,
Vagando sem rumo por mundos antigos,
Levando comigo a idade do tempo
Em tempos de luto por dias perdidos.

Eu trago da fonte o que a fonte me cede,
Buscando nos cantos o canto dos loucos
Que fala da morte que à vida precede
E toca com um sopro a alma de poucos.

Caminho num mar de águas praieiras,
Que viram em ondas o som do luar,
Morrendo em ilhas de velhas palmeiras
De folhas vergadas ao toque do ar.

Me encontro, por vezes, em rotas trilhadas
Por bravos guerreiros de guerras sem fim
E enfrento a existência em longas jornadas,
Pertenço ao mundo e ele à mim.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Desesperança




Desesperança
(Walner Mamede Jr.)


Fraqueje e se faça ferir
E fuja sem fuga de fato,
Faça da força uma farsa,
Fingindo a firmeza do fraco.

Venda sua vida ao vinho,
Ao vinho da vida vivida
Em volta de vasto vazio
Que verte em vagas vontades

Trague na taça o tormento
De torpes trapos trajado,
Tingindo com turva tintura
A trilha de triste traçado.

Perdas




Perdas
(Walner Mamede Jr)

As lágrimas rolam novamente
E contam a tristeza dos olhos,
Janela da alma sofrente,
Alma que chora em silêncio,
Calando a certeza da mente,
Mente que quer não estar certa
Da dor que se mostra iminente:
A perda daquele, o mais amado,
Que marcou seu futuro e passado,
O homem que é seu presente.

Lembrança maculada



Lembrança maculada
(Walner Mamede Jr.)

Teu sangue, ao meu macula,
Apodrece o teu cerne,
Envenena tua alma
E fomenta os teus vermes.
É o sangue entornado,
Que permeia minha sorte,
Atravessa minha vida
E dá vida à minha morte.
Mas, em vindouros sóis,
Não olvidarei priscas eras,
Pois do nada que sobrou,
Resta tu, que foste delas.

Tormento




Tormento
(Walner Mamede Jr.)

Das profundezas é a serpente
Que em minha mão eu vejo,
Sem perceber que é tão somente,
De minha loucura, um lampejo.

Sofrendo o peso desse destino,
Que me definha e me derreia,
O sangue seca em minha veia
E me agarro ao desatino.

Cospem já, os olhos, rubras gotas
Solidários ao meu tormento,
Quando escapam palavras poucas
Que tão roucas se vão ao vento.

Trajando, a angústia, negro manto,
Do corpo meu me suga a vida,
Buscando fundo a dor sentida
Pel’alma triste em desencanto.

Separam-se, enfim, meus corpos
E, no colo, encontro a chave
Que, embora, porta não destrave,
Abre passagem para os mortos.

Anunciação



Anunciação
 (Walner Mamede Jr)

Sentirei a maciez de sua língua junto à minha,
E o cheiro excitante de sua boca febril.
Em seu lábio o ferro, ao fechar dos dentes,
Saído do corpo ardente que à mim se abriu.

Ao tocar seu púbis, enrijecidos mamilos
Roçarão meu corpo tenso, frenético e viril.
E anunciado o prazer, molhados os dedos
Joga-la-ei ao chão como troça infantil.

Abrirei suas pernas e, aninhando-me em seu meio,
Leva-la-ei ao gozo gemido na forma de pranto.
No açoite da carne, um sussurro a cada galeio
Tomará de seu ventre o odor úmido e visguento.

E, assim atracados como feras selvagens,
Enlaçados no calor e tessitura do desejo,
Trocaremos carícias de dor e prazer ardentes,
Em meio ao sangue anunciador do ensejo.

Vida sem sonhos




Vida sem sonhos
(Walner Mamede Jr)

O sonho acabou,
Do que era um se faz meio,
Abstenho-me de esforços
Que culminem em sorrisos
E os que nascem, nascem mortos
Ou já condenados então.
Eis que a vida me chama,
Pois dela sou servo
E hei de servi-la
Até que a morte me conquiste.
Porém sem alegria:
O sonho acabou.