Conto um, conto dois...quantos cantos têm a mim! Conto muitos como muitos e tantas vezes e, tantas contas que nem tenho mais conta de quantos contos ainda sou! Cantamos o que damos conta, o que vemos e o que ouvimos, o que nos dizem e o que nos mostram e adiante nós seguimos como conhecedores de nós mesmos. Pedaços é o que somos e, como pedaços, precisamos ser juntados, mas o inteiro que podemos ser jamais será descoberto, difícil ser arrebanhado.

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sábado, 22 de maio de 2010

O meio-grito

 Um canto criado em 04/fev/2006

O meio-grito
(Walner Mamede Jr)

A saúde é a fraqueza, a doença da doença
Do pobre que não adoece, nasce doente e não se cura
E vai morrendo pela vida, na roça ou na ponta da rua,
Fervendo receita pra escapar em meio à indiferença,
Como um povo desfeiteado, que vive na marra, arrastado,
Do capim fazendo salada, sem ter carne nem verdura.
O arroz é puro branco, feito n’água, sem gordura,
Fraco pra quem trabalha, pega pesado, mas sempre barato.
Em um mundo de rico feito de pobre,
Que ganha menos que quem tá parado,
O conhecimento escondido é saber erudito,
Pra rico uma arma, pro pobre, maldito.
Mundo em que rico é curado e pobre enganado.
Clima que mudou de clima, vento de tempo quente,
Ar ruim e água doente, adubo e vacina é pra toda gente
Só a fome é do povo e a ele ela se prende
Tá com o povo e com ele vai pra todo lado que ele pende,
Pois o pobre é a água pequena que enche o ribeirão.
Seu suor tá no carro, tá no prato de comida,
Tá na roupa que é vestida por cada tubarão.
E o grito, o meio-grito, o grito inteiro da multidão?
Engasga na garganta, se perde em meio ao medo,
Sufoca na vergonha de não ter situação.

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