Conto um, conto dois...quantos cantos têm a mim! Conto muitos como muitos e tantas vezes e, tantas contas que nem tenho mais conta de quantos contos ainda sou! Cantamos o que damos conta, o que vemos e o que ouvimos, o que nos dizem e o que nos mostram e adiante nós seguimos como conhecedores de nós mesmos. Pedaços é o que somos e, como pedaços, precisamos ser juntados, mas o inteiro que podemos ser jamais será descoberto, difícil ser arrebanhado.

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sábado, 22 de maio de 2010

Escura noite clara


Um canto criado em 1990
Escura noite clara
(Walner Mamede Jr)

Cidade escura, verdade clara.
A noite é o palco em que brilha a estrela,
Que se entrega despida de qualquer pudor
A representações reais de origem obscena
De comédias trágicas e dramas de amor.
Assumindo desejos e paixões sufocadas,
Viciadas em vícios apagados pela luz
Se traveste, muda de nome e, em cena,
Nasce e morre, odeia e seduz.
Inflama-se, geme e grita,
Sorri, aquiesce e chora.
E, no cheiro do prazer que sólido se torna
Faz-se, também, o minuto em hora
E enquanto a grinalda negra é tirada
Agradecem os artistas e o palco se transforma
E, pintando de sombras a madrugada,
A luz trás de volta o bom papel:
Vai-se o batom pela gravata
E ao dedo marcado retorna o anel.
A verdade, confusa, se contorce e se esconde
Nas sombras profanas da luminosidade.
E o escuro das almas em pranto se encolhe
À espera de que em noite o dia se torne,
O dia, que alheio ao sofrer, já arde.

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