Um canto criado em 2003
Abandono
Seria traquinagem do Sol
Com seus raios que me cegam?!
Quem o sabe?
Não vi abandono,
Não vi brilho.
Apenas um manto
De sombras tão sepulcrais
Quanto o abismo
De minha própria alma.
Resignadamente o recebo,
Com ele me cubro,
Adormeço em mim mesmo
E, penitente, me confesso:
Não fui capaz de partir.
Agora já o sabe,
Pois aqui me quedo
Para, com meu corpo,
Buscar ao seu
E se, no encontro,
A alma de seus olhos,
Num brilho,
Se abandonar aos meus,
Saberei de pronto,
Num instante tão fugaz
Quanto despido de engano,
Que encontrei o que procuro:
A luz de meus olhos,
Até então apagada
Pelo vazio do abandono.
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