Canto criado em 01/12/2016
(Adaptado do conto de Oscar
Vadislas de Lubicz Milosz, em
1912, sobre Dom Miguel de Mañara, sedutor e libertino incorrigível que,
ainda jovem, tido como um Dom Juan, vivencia um encontro com um espírito
misterioso que o motiva a se converter ao Cristianismo e se tornar Padre, em Sevilla,
em meados do Século XVII. A poesia abaixo traduz, com certa licenciosidade
poética, a mensagem recebida do espírito durante o diálogo. O texto original,
traduzido para o Português, vem logo em seguida)
Sorte do homem que tem o coração
Como a pedra de um sepulcro debaixo da neve
E cuja esperança é como o nome de um pai
Marcado na lápide enterrada no chão
Sorte do homem cujo ventre exposto
É como o lugar em que se planta a cruz
E cujo sangue é como o pavor dos mudos
Que não falam, mas ouvem tudo o que seduz
Sorte do homem maldito por sua mãe,
Que cega levanta o bastão sob a lua
E, no coração do silêncio que é rasgado,
Dança a dança dos loucos que dançam na rua
Sorte do homem cujas lágrimas são a chuva
Nos sepulcros em ruína que se desfazem na relva
E cuja pele é o barulho da serpente no paraíso
Se arrastando entre as folhas, se escondendo na selva
Sorte do homem cujo filho vem da luxúria
Mas não da sua, do inimigo que o persegue
O filho que sob a lua, no silêncio da chuva
Segue seus passos, inteiro entregue
Mas coitado do homem que por medo prefere
O vazio do tédio ao tormento da paixão,
Aprisionado ao fantasma da vida passada,
Descrente de tudo, vive em vão.
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O primeiro mistério
(Trecho
do original de O.V.L. Milosz, traduzido para o Português e que pode ser
encontrado em https://www.amazon.com.br/Miguel-Manara-Oscar-V-Milosz/dp/8474909848)
A
SOMBRA: Bem-aventurado o homem cujo coração é como a pedra de um sepulcro
debaixo da neve e cuja esperança é como o nome de um pai marcado no sepulcro.
Bem-aventurado o homem cujo ventre é como o lugar em que se planta a cruz e
cujo sangue é como o pavor dos mudos. Bem-aventurado é o homem maldito por sua
mãe cega. Ela levanta o bastão debaixo da lua. O coração do silêncio é rasgado.
Bem-aventurado o homem cujas lágrimas são a chuva dos sepulcros em ruína e cuja
pele é o barulho da serpente entre as folhas. Bem-aventurado é o homem cujo
filho nasce da luxúria do inimigo! O filho segue-o no silêncio da neve,
escondendo-se atrás das árvores, sob o olhar da fria escondendo-se atrás das
árvores, sob o olhar da fria lua. Mas ai, ai do homem consciente que prefere,
cego para a beleza de Deus, o vazio do tédio ao tormento da paixão e o tormento
da paixão ao vazio do tédio!
DOM
MIGUEL: Quem é você, espírito?
A
SOMBRA: Eu sou o fantasma da sua vida passada.
Sorte do homem que sorri quando se encanta , que enlouquece quando se esbraveja e que vive entusiasmado pela montanha russa descontrolada que desafia a razão.
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